terça-feira, 26 de abril de 2011

Puente Presidente Stroessner:

geopolítica, concreto e aço.


Foi a primeira grande obra de engenharia civil feita no Oeste paranaense. Produto acabado da visão geopolítica brasileira e que se insinuava com vistas à construção da futura Hidroelétrica de Itaipu Binacional e à primazia diplomática frente ao Paraguai.

A construção do arco a partir das duas margens do rio.

 Oficialmente tinha como objetivo uma suposta integração da tríplice fronteira com o restante do território brasileiro. Afinal de contas, o Paraguai, alvo maior dos nossos interesses diplomáticos, precisava de uma saída para o mar. A tal saída, com a construção da ponte, seria a BR-277, inaugurada em 1969, e que iria cortar o Estado do Paraná de Leste a Oeste. Junto com a ponte e a rodovia foi oferecido aos paraguaios um terminal exclusivo no porto de Paranaguá.
As elites guaranis preferiram batizá-la na época – isso bem antes da deposição do ditador, ocorrida em 1989 - com o nome de Puente Presidente Stroessner. Está situada sobre o Rio Paraná e cá entre nós, brasileiros, ficou conhecida como a “Ponte da Amizade”.
 A idéia de fazê-la remonta ao dia 29 de maio de 1956, quando os governos do Brasil e do Paraguai assinaram acordo para a construção de uma ponte sobre o Paranazão. Já no dia 14 de novembro daquele ano foi formada a Comissão Especial encarregada da execução da obra, sob a chefia do engenheiro Almyr França.
Escolhido o local, iniciaram-se os estudos e sondagens no fundo do rio, e durante as prospecções iniciais deu-se a tragédia. Em fevereiro de 1957 foi a pique o barco no qual a equipe técnica fazia sondagens no centro do leito do rio. Nesse acidente morreu afogado o engenheiro Tasso Costa Rodrigues, enquanto os outros tripulantes salvaram-se milagrosamente.
As obras avançam.

Para que não houvessem empecilhos para a navegação, a ponte teria que ter vão livre de no mínimo 18 metros acima do nível da água, mesmo nos momentos de maior cheia. Através de Informações colhidas em registros históricos e testemunhos vivos verificou-se que a maior cheia ocorreu em 1905, quando as águas subiram 30 metros acima do nível normal.
Deliberou-se então que a ponte devia ter 77 metros de altura a partir do fundo do rio e 32 metros acima do nível de água. Foi a partir dessas informações projetada uma ponte com 553 metros de comprimento, sustentada sobre um arco com vão livre de 290 metros .
O projeto é de autoria do engenheiro paulista José Rodrigues Leite de Almeida, formado pela Escola Politécnica de São Paulo.
A construção foi ganha em concorrência pública pelo consórcio formado por duas firmas: a Construtora Rabello S.A. - que construiu quase na mesma época o Palácio da Alvorada, em Brasília - e a Sociedade de Terraplanagem e Grandes Estruturas Ltda. (Sotege).
No pico das obras a construção empregou cerca de mil homens, em sua maioria residindo em casas especialmente construídas no local.
A ponte, novinha em folha.

Para o abastecimento com água potável foi perfurado um poço artesiano com 117 metros de profundidade, sendo que a água para a concretagem era captada num córrego. Foi necessário desmatar uma área de 14 hectares e realizar 139 mil metros de terraplanagem.
Para a britagem foi instalada no local da obra uma britadeira com capacidade para produzir 100 metros cúbicos de cascalho por dia. A areia era retida do próprio leito do rio e a madeira era obtida em serrarias da região. O cimento vinha de Curitiba e São Paulo. Já as estruturas e materiais metálicos eram buscados em São Paulo, Volta Redonda e Rio de janeiro.
O canteiro de obras estava ainda equipado com compressores, oficina mecânica, posto de combustível, gerador de eletricidade movido a óleo diesel, laboratório de análise e controle de materiais, escritórios, depósitos, serraria e ônibus para transporte de operários e seus filhos para as escolas da cidade.
1961. União das estruturas iniciadas em cada margem, com a habilitação de uma passarela de madeira, provisória, acompanhada de perto pelos presidentes Juscelino Kubitschek e Alfredo Stroessner.

           O grande desafio era a edificação do imenso arco de sustentação da ponte. A tarefa foi entregue à Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda (RJ). A empresa montou uma estrutura metálica especial com de 157,3 metros de comprimento, com 1.200 toneladas de aço. A estrutura saiu aos pedaços de Volta Redonda, distante. 1.700 quilômetros de Foz do Iguaçu. O transporte, feito por carretas, foi uma autêntica façanha do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem.
Inaugurada em 27 de março de 1965 pelos presidentes Castelo Branco, do Brasil e Alfredo Stroessner, do Paraguai, a Ponte da Amizade foi fator de atração de investimentos e negócios entre os dois países. Foi, por exemplo, decisiva para o surgimento de um forte comércio exportador em Foz do Iguaçu.
Para o Paraguai significou o nascimento da cidade de Puerto Stroessner, hoje Ciudad del Este, segundo maior centro urbano daquele país. Para o Brasil o coroamento de acertada diplomacia de boa vizinhança e afirmação de um projeto geopolítico de soberania na Bacia do Prata e que se mantém até os dias de hoje.