quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Então corra, porque a Coluna vem aí!
No dia em que Foz do Iguaçu caiu sem que se disparasse um tiro sequer.


1924. Revolucionários no Marcos das Três Fronteiras, em Foz do Iguaçu.


O furdunço começou em 5 de julho de 1924, quando explodiram diversas revoltas militares por todo o Brasil.
            Para um grupo de oficiais e soldados o negócio era a derrubada do mineiro Arthur Bernardes, “eleito” Presidente da República nas eleições de março de 1922.
               Era tempo da política do “café com leite”, quando as elites políticas e econômicas de São Paulo e Minas Gerais mandavam e desmandavam, revezando-se na escolha do candidato à presidência do Brasil. Escolhiam, impunham e ganhavam.
Do outro lado, naquele pleito, numa espécie de frente de oposições, estava o advogado carioca Nilo Peçanha. Assumiu a presidência da república após o falecimento de Afonso Pena, em 14 de junho de 1909, e governou até 15 de novembro de 1910. Talvez o único mulato presidente do Brasil. Sua candidatura era apoiada pelos estados do Rio de Janeiro, de Pernambuco e da Bahia.
            Como era jogo de cartas marcadas, a oposição perdeu e explodiu então a rebelião, em gestação desde a fracassada revolta dos 18 do Forte de Copacabana.
A revolta militar teve início em São Paulo e naquela cidade os revoltosos ficaram dezenove dias, depois do que tiveram que fugir para poupar a população civil do mortal bombardeio da artilharia e dos aviões do governo.
Saindo da capital paulista a já batizada “Coluna Paulista” se dirigiu para o interior. Acossados, em menor número, os rebeldes foram derrotados em Três Lagoas (SP) e não tiveram outra escolha senão entrar em território paranaense.
No Oeste do Paraná pretendiam instalar o seu “Estado Livre do Sul” e aguardar reforços dos revolucionários gaúchos. Assim foi feito e a Coluna Paulista se estabeleceu na região
            Enquanto isso, lá no Rio Grande do Sul, mais precisamente na cidade de Santo Ângelo, um capitão de engenharia também se rebelou e aderiu à revolução – ou golpe militar? Seu nome: Luís Carlos Prestes. No comando da “Divisão Rio Grande” combateu com maestria e tenacidade as tropas bernardistas, superiores em número e equipamentos. A exemplo dos paulistas foi obrigado a recuar sob pena de destruição. Prestes atravessou parte do Rio Grande, o Oeste de Santa Catarina, o rio Iguaçu e veio dar no Oeste paranaense.
Luís Carlos Prestes (1898-1990).

Aqui chegou em abril de 1925, no exato momento em que as tropas revolucionárias vindas de São Paulo eram obrigadas a abandonar a região e seguir em direção ao Paraguai, após serem derrotadas em Catanduvas.
Entretanto, antes da derrota em Catanduvas e da chegada dos revolucionários gaúchos, muita coisa acontecera.
            No Oeste paranaense a idéia da Coluna Paulista, após ter deixado São Paulo, era a captura da cidade de Guaíra, sede da Companhia Mate Laranjeira, e dali descer em direção a Foz do Iguaçu. Antes, para ter uma base de apoio, tomaram o Porto São José, em 31 de agosto de 1924; a primeira localidade paranaense a cair nas mãos das tropas revolucionárias.
            Em Guaíra estavam aquartelados oitenta soldados do governo, comandados por um tal de Dilermano de Assis. Os rebeldes atacaram por terra e pelo rio Paraná. Venceram de vereda, pois antes do combate decisivo tiveram a sorte de aprisionar uma lancha da Mate Laranjeira, pilotada por um paraguaio. Interrogado, abriu o bico e contou tudo o que sabia; inclusive que havia sido colocada uma poderosa bomba (mina) no meio do rio e que, amarrada com arame, explodiria ao menor contato. Entregou também o código luminoso secreto que permitia somente as embarcações da empresa entrar livremente em Guaíra.

Soldados revolucionários em Foz do Iguaçu, 1924.

            Daí foi moleza. Tendo conquistado Guaíra, os revolucionários margearam o rio Paraná e capturaram Porto Mendes e o Porto São Francisco, no dia 15 de setembro. No dia 19 ocuparam Porto Britânia. Dali, uma parte das tropas foi mandada para a região de Catanduvas. Quem seguiu adiante, rumo a Foz pelo rio, foi uma pequena patrulha de dez homens, de barco, comandados por Juarez Távora.
            A patrulha avançou com todo cuidado e ao longe pode avistar o porto de Foz do Iguaçu. Como não encontrou resistência, Juarez ordenou que a lancha atracasse e que seus homens subissem em direção à cidade, tomando todas as precauções. Não foi para sua surpresa que ele não encontrou viva alma pelo caminho. O que lhe chamou a atenção foi o movimento no único edifício de alvenaria construído na cidade. Pensou que iria encontrar resistência, mas que nada! Para sua surpresa e alegria, o motivo da aglomeração era o velório de uma velha que havia morrido na véspera e que estava sendo “guardada” na cadeia local.

Tenente Cabanas (1895-1974).
            A cidade estava às moscas. Tudo obra do tal Dilermano que, tendo fugido de Guaíra, embarcou no vapor “Iberá”, em Porto Mendes. Ao aportar em Foz espalhou aos quatro cantos a notícia de que estava sendo perseguido por grandes forças e que os revolucionários estavam destruindo tudo pelo caminho. Pior ainda, vinham atropelando, degolando os soldados e civis inocentes que encontravam! Foi a conta! Pânico geral e todo mundo se bandeou para a Argentina, chorando e deixando para trás automóveis, cavalos e carroças, já que não haviam barcos suficientes para transportá-los. E Foz caiu, caiu sem que se disparasse um tiro sequer!
            Com a tomada de Foz do Iguaçu todo o Oeste paranaense ficou sob o controle das tropas revolucionárias por cerca de oito meses. Durante todo esse período cessou o comércio fluvial pelo Paraná, o que causou grandes transtornos para as populações ribeirinhas. Obrageros e capatazes também fugiram, temerosos de serem aprisionados pelos rebeldes.
Por terra ninguém se aventurava e a região ficou completamente isolada até o fim dos combates, em 29 de abril de 1925.
Anos depois vieram a Revolução de 1930, Getúlio Vargas, a tal da “marcha para o oeste”, as vendas de terras, negociatas, as companhias colonizadoras, migrantes gaúchos, catarinenses e nordestinos. Mas essa e uma outra história, uma história em movimento.

jacolodel@bol.com.br - historiador



Um comentário:

  1. Gostei do seu blog. A título de colaboração colei o meu. Obrigado.
    http://colunamiguelcostaprestes.blogspot.com/

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