Eta bailinho bom!
De levantar a poeira!
Salão Mayer, doce recordação dos namoricos, bolão e jogos de baralho.
José Augusto Colodel * historiador
Na Santa Helena dos anos sessenta, para aquele pessoal que gostava de arrastar o pé, bailinho era só de vez em quando. Geralmente feito de improviso em algumas poucas casas, nas tradicionais festas de igreja ou na marcenaria do já falecido Argemiro Kozerski.
Tinha animação também na sede da Sociedade de Damas Floresta, que mais tarde, a partir de 1963, seria a primeira sede do Clube Incas. Ali defronte à Praça Orando Webber, na antiga Tropical, do Dileto Alba. Naquele local ainda funcionou durante algum tempo um salão de madeira que era da família Thauhat e que mais tarde foi negociado com o Valter Ballmann.
O ano é 1962. A residência é de Bruno e Herta Mayer. No mesmo endereço funcionava o Salão Mayer, localizado na esquina da Rua Amazonas com Rua Argentina. O Salão Meyer foi um dos primeiros pontos de encontro e lazer da comunidade santa-helenense. Diante do salão se vê o caminhão de Norberto Spielman.
E como dançar todo mundo, ou quase todo mundo gosta, certos costumes, que hoje quase não se praticam mais, serviam como motivo para que os “pés de valsa” se reunissem. Na falta de motivo, criava-se a oportunidade. E uma dessas aparecia quando a casa de algum morador tinha o assoalho colocado. O serviço era feito numa espécie de mutirão. A vizinhança ajudava. De dia punham o assoalho a “toque de caixa” e de noite bailavam, numa espécie de inauguração da nova moradia.
Acontece que a cidade estava crescendo a olhos vistos e era fato que faltava um lugar apropriado porque não dizer moderno - onde os santa-helenenses pudessem se divertir. Um espaço que desse impulso à vida social da comunidade. E não demorou muito para que esse anseio se tornasse realidade pelas mãos da família Meyer.
Como o que não faltava era madeira, dê-lhe madeira! Tudo tábua de primeira. O telhado, em quatro águas, com telhas do tipo “francesa”, foi adquirido em Rondon e pelas janelas, daquelas de erguer, muita gente boa escapou de confusão!
A inauguração do Salão Meyer, no ano de 1962, foi acompanhada de grande expectativa tanto na cidade como pelo interior de Santa Helena.
O comentário era geral: finalmente santa Helena iria ganhar um local adequado para a realização de seus encontros sociais. Cortada a fita; os bailes, festas, reuniões políticas, almoços, jantares, jogos de baralho e de bolão tornaram-se freqüentes e tinham como endereço certo o Salão Meyer.
As promoções eram sucessos garantidos e atraíam para o salão uma enorme e variada clientela, oriunda de todas as partes do então distrito de Medianeira. E assim reinou absoluto, até que foram inauguradas as sedes próprias dos clubes Incas e União, alguns anos mais tarde.
Para quem testemunhou o auge do Salão Meyer as lembranças, já tão distantes, não deixam de se envolver por um certo ar de romantismo. Os bailes e jantares eram iluminados pela luz mortiça dos famosos “aladins” e, depois, por meio de botijões de gás. Na copa, bem sortida, se podia encontrar toda uma variedade de doces, bolos e salgados; inclusive o frichtig, típico da culinária festiva alemã, feito à base de carne de porco.
E assim foi. Quantos e quantos namoros tiveram seu início na pista do Salão Meyer, entre uma dança e outra! Flertes, alegrias e desilusões; cenas de ciúmes, bebedeiras, discussões e confusões eram os ingredientes que transformavam noites e madrugadas inesquecíveis.
O salão ficou nas mãos da família Meyer até o ano de 1970. Daí para frente suas instalações foram alugadas. Com altos e baixos o Salão Meyer, como ficaria eternamente conhecido, continuou promovendo bailes populares até a década de 1980, quando foi definitivamente desativado. Ao imponente lugar foi reservado um papel nada condizente com o resplendor de seu passado: passou a servir como depósito de móveis para a empresa local Radiolândia. Já o bar, anexo ao salão, permaneceu com as portas abertas ainda por mais alguns anos, sendo também fechado em meados dos anos oitenta. Mas, os mais antigos, quando passavam lentamente diante do velho casarão, deviam sentir uma pontinha de saudade. Caso pudéssemos testemunhar esse momento, perceberíamos o mesmo brilho em seus olhos, tão fugaz e malicioso como antigamente.
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